Parte 7/12
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É... um dia a gente tem que trabalhar! Universidade, namoro, planos da vida futura — o trabalho é inevitável. Carteira assinada, ponto, intervalo pra descanso, um PF de almoço, acúmulo de serviço, ônibus lotado na volta pra casa. A vida mudou radicalmente! E eu me senti cidadão do mundo.
Aos poucos, me embrenhei mais o mundo da informática. Não precisava mais programar em Algol, com cartões perfurados. Sim, eu vivi essa época... minha turma deve ter sido uma das últimas a usar perfuradoras de cartões na Federal. Virei "piolho" do DCC (Depto de Ciência da Computação) da Federal e comprei meus 2 únicos disquetes de 8" na loja da Control Data, em 3 parcelas — com bons recursos de formatação, consegui colocar CP/M, Wordstar, mBasic e dBase II num espaço de pouco mais de 360 Kb. Não, não faltou espaço para o StarTrek e para meus programas e documentos. Logo o CP/M deu lugar ao DOS. O Quartzil e o Polymax foram trocados por um Apple IIe e um DGT-100. Os disquetes agora podiam a armazenar 720 Kb em apenas 5"1/4.
Trabalho, rotina, aulas — eu passei a assistir aulas na UFMG e a dar aulas de linguagens de programação. Com dinheiro no bolso, não demorou muito para eu comprar meu primeiro computador. Caramba! O CP-300 funcionava com uma TV Philips 10" P&B e um gravador National. Me lembro de ter ligado para um amigo para comentar: "Cara, o micro tem um relógio de tempo real!". E onde ficou a Engenharia? Perdida no meio das greves e da desorganização do ensino público federal... Desse jeito não deu mais para continuar estudando. A responsabilidade aumentou, o nome começou a se firmar no mercado de trabalho, um futuro diferente e promissor se desenhou à minha frente.
Eu vi o rock brasileiro sair do Circo Voador e invadir o país! Novas bandas, novos sons, novos talentos... mas parecia ser só mais uma fase da MPB. Blitz, Titãs, Paralamas, RPM, Barão Vermelho, Kid Abelha, Legião Urbana, 14-Bis, Ira!, Ultraje a Rigor, Capital Inicial, Richie, Lobão, Metrô, Camisa de Vênus, Biquini Cavadão, Roupa Nova... fosse brega ou chique, todos faziam muito sucesso.
Eu vi o Colégio Eleitoral derrubar o Maluf em favor do Tancredo Neves! O poderio das Forças Armadas tinha acabado de vez. Ao mesmo tempo, a minha responsabilidade aumentou com o casamento; logo depois, o primeiro filho. O arrocho salarial, a inflação descontrolada, as enormes dívidas dos governos militares... nem tudo foi bom durante o regime militar — e os "frutos" só apareceram depois.
E como fruto "maldito" daquele regime recém-finado, Tancredo morreu! Ou foi morto! Será que um dia saberemos a verdade? Estória mal contada, fotos fantasiadas, boletins diários, até um domingo à noite fechado com o hino nacional na voz de uma conterrânea minha! Que privilégio inglório! Mas eu também não agüentei a emoção e deixei os olhos encherem d'água... pra extravasar, pra esvaziar meu pacote de esperanças num Brasil melhor. Naquela noite, todo brasileiro legítimo foi pra cama com um nó na garganta.
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