quarta-feira, 31 de outubro de 2007

TROPA DE ELITE - Osso duro de roer


O filme do diretor José Padilha, sobre a "rotina" do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) do Rio de Janeiro já levantou muita poeira e causou um bocado de polêmica. O que era para seguir um estilo de documentário, baseado (segundo Padilha, não é uma adaptação!) no livro "Elite da Tropa", de Luiz Eduardo Soares, acabou virando um sucesso e uma mania nacional! Mesmo com milhares de cópias "pirata" espalhadas antes da estréia, bateu recorde de bilheteria já no primeiro fim de semana de exibição! O que mostra que a "pirataria" ajuda na divulgação e não deve ser tratada de forma tão nociva — mas isso é assunto para outra oportunidade.

O enredo trata da guerra urbana carioca sob a ótica de um dos lados: o de um policial. E não reflete diretamente a realidade — esta é bem mais cruel — dos problemas de desaparelhamento e má remuneração da força policial, violência, abuso de poder, corrupção escancarada, tráfico de drogas, desigualdades sociais, métodos de tortura, etc.

Alguns críticos e antropólogos apontam uma visão "maniqueísta" da abordagem e, em alguns pontos, preconceituosa também. O filme incomoda porque mostra um pedaço das vísceras da nossa sociedade frente aos temores de profissionais que querem vencer de forma honesta, e os obstáculos que isso traz. A análise deve ser muito mais profunda, e esbarra no câncer da criminalidade impune alimentada pela inércia e/ou incapacidade de governantes e "homens da lei".

Não sou adepto da tortura, tampouco de métodos ortodoxos de cerceamento da bandidagem; por outro lado, quando o "outro lado" não respeita, renitentemente, nenhum direito do cidadão comum (entenda-se aí eu, você e os demais), certamente merece uma correção mais severa. E, se você pensar bem, "osso duro de roer" não é o BOPE, com suas atitudes radicais e sua violência quase sem limites; é ver a insegurança instalada no cotidiano, é saber que pessoas inocentes morrem por causa de vinganças injustificáveis ou de balas perdidas, é ver o filho do seu amigo ou vizinho morrendo "a prestação" por conta das drogas, é o esforço desmedido que pessoas simples fazem para serem "do bem"... pressionadas pelo "lixo da sociedade" que insiste em ser "do mal". Isso, sim, é duro de roer.

De qualquer forma, é bom deixar clara a minha visão: o cap. Nascimento não é herói, nem todo favelado é bandido, nem todo policial é corrupto, nem todo universitário é viciado, nem todas as ações do BOPE dão certo, nem toda tortura é solução! As personificações do filme são caricatas, estigmatizadas em demasia para chamar a atenção sobre os problemas... Se ninguém fizer assim, como vamos tomar conhecimento? Portanto, se você não viu, vá ver. É um ótimo filme! E responda a enquete aí ao lado...

(*) maniqueísmo - corrente de pensamento sincretista, instituída por Maniou Maniqueu (séc III), que defende a idéia de que o Universo é dividido em dois lados que combatem constantemente: o "bem", ou Deus, e o "mal", ou diabo.


segunda-feira, 29 de outubro de 2007

PASSEI DOS 40... (1/12)

Escrevi este texto em dez/2004.
Aos poucos, fui fazendo algumas mudanças, correções, atualizações.
Creio que vale a pena tê-lo aqui para que você me conheça mais.

-- ele foi especificamente postado em forma inversa, para facilitar a leitura.

Passei dos 40 anos de idade. É engraçado que, com o passar dos primeiros dias ou semanas, a gente sente que tudo aquilo que as pessoas "mais velhas" nos diziam é a mais absoluta verdade! Seria ótimo ter o corpo dos 20 e poucos anos com a cabeça de hoje.

Por vezes temos a impressão nítida que, daqui pra frente, começamos a "descer a serra"; o corpo pesa mais, as articulações não respondem tão bem como há alguns anos, os cabelos brancos se tornam mais visíveis, e algumas pessoas começam a lhe tratar regularmente por "senhor". Eu me sinto agradecido a Deus por ter chegado com saúde até aqui; e peço a Ele que eu possa viver, pelo menos, mais o mesmo tanto de anos...

PASSEI DOS 40... (2/12)

Parte 1/12
Vim ao mundo no mesmo dia em que pessoas famosas como o Almirante Tamandaré, o rei do baião Luiz Gonzaga, e a escritora/poetisa Adélia Prado. E num mês repleto de celebridades; em dias próximos também nasceram: Frank Sinatra, Walt Disney, Dionne Warwick, Dom Pedro II, Sílvio Santos, Emerson Fittipaldi, Clarice Lispector, Chico Mendes, Jorge Dória, Gustave Flaubert, Noel Rosa, Michel de Nostradamus, Woody Allen, Eva Wilma, Jane Birkin, Lee Remick, Camille Claudel, Florbela Espanca, J Silvestre, Sargentelli, Sammy Davis Jr, Ozzy Osbourne, David Carradine, Daryl Hannah, Jim Morrison, Kim Basinger, Khalil Gibran, José Carreras, Ludwig van Beethoven, Olavo Bilac, Arthur C Clarke, Jim Morrison, Liv Ullmann, Érico Veríssimo, Adolfo Lutz, Keith Richards, Roberto Marinho, Oscar Niemeyer, Cássia Eller, Steven Spielberg, Christina Aguilera, Vanessa Hudgens, Brad Pitt, Britney Spears, Edith Piaf, e por aí vai. Dá pra perceber que, neste período do ano, só nasce gente inteligente, talentosa, bonita... e modesta, né?

Eu me sinto um privilegiado! Nasci na mesma época que os Beatles e os Rolling Stones despontaram para o sucesso; a TV Globo surgiu meses depois. Vivi, sem me aperceber de nada, os primeiros tempos do regime militar com muita tranqüilidade — talvez porque eu fosse pequeno demais, ou porque aquilo não me atingia, uma vez que meu pai era militar... eu estava "do lado da força"!

Ouvi meus pais cantarolando músicas como "A banda" e "Disparada" — era a época dos Festivais da MPB em 67/68. Vi o homem chegar a Lua em 1969 - uma imagem péssima numa TV Semp em preto e branco. Brinquei de vareta, de futebol de botão e boliche (de carretéis de linha) com meu pai. Ouvi, pela radiola antiga, os jogos da vitória do Brasil na Copa de 70 — e aprendi a gostar de futebol, mas só dos grandes jogos.

PASSEI DOS 40... (3/12)

Parte 2/12
Início - 1/12

Não terminei o pré-primário... nem mesmo comecei o 1º ano! Com 5 anos, eu lia e escrevia corretamente. Essa habilidade me levou a protagonizar uma peça onde eu era um chinês, com direito a quimono estampado, chapéu de forma cônica, maquiagem com olhos puxados, e várias páginas de texto decorado! Minha mãe se desdobrou com o figurino; meu pai também estava lá, registrando tudo. Sucesso total! E eu me senti agraciado por todos.

Mas a professora dizia que eu "atrapalhava" as outras crianças. E a diretora da escola achou melhor me transferir do pré para o 1º ano, no meio do ano! Quando fui "colar grau" do pré, eu já tinha passado direto para o 2º ano — aquilo foi muito estranho para mim.

Aprendi a datilografar com 6 anos — tínhamos 2 Olivetti e 1 Remington em casa. Meu pai cuidava da contabilidade de seus clientes, minha mãe escriturava os livros fiscais, e eu datilografava mensalmente os balancetes (com todo cuidado, porque eu não podia errar), e as RAIS, todo início de ano. Foi assim durante um bom tempo.

Aprendi a desfrutar da beleza da música clássica — Beethoven, Mozart, Bach, Chopin, Brahms, Vivaldi — por influência paterna. Mas eu sabia que existiam uns cabeludos que atendiam pelo nome de Beatles e gostava das músicas deles, já tinha ouvido Janis Joplin e Jimi Hendrix no rádio, e sabia da repercussão causada por um certo festival Woodstock e por uma ópera pop chamada "Jesus Cristo Superstar".

Eu vivi o "milagre econômico" do governo Médici! Que maravilha era desejar aquela imensa quantidade de brinquedos importados - e ter a chance de brincar com alguns, sempre de colegas... porque o meu pai não podia comprá-los para mim. Acompanhei a crise do petróleo em 1973 — mas não diziam que "o petróleo era nosso"? Por que tanto receio daqueles árabes?

Fiquei encantado ao ver uma TV em cores! Uma vez, andando no centro da cidade com meu pai, vi uma TV ligada e corri para contar à minha irmã de que cor eram as roupas do Batman e do Robin. Assisti a shows, pela TV, de Alice Cooper e dos Secos e Molhados — por que eles se pintavam tanto e eram tão performáticos? Será que eram só "personagens", como eu tinha feito na peça?

PASSEI DOS 40... (4/12)

Parte 3/12
Início - 1/12

Assisti os filmes do Roberto Carlos na TV, e fazia tudo pra não perder os Três Patetas, Zorro, Perdidos no Espaço e Rin-tin-tin; minha irmã preferia ver Túnel do Tempo e Terra de Gigantes, enquanto meu pai gostava mais de Bonanza e Bat Masterson. Eu cantei "debaixo dos caracóis dos seus cabelos", do Roberto, e "sem lenço e sem documento, nada no bolso ou nas mãos", do Caetano.

Vi a primeira versão de Vila Sésamo, com Garibaldo, Gugu, Ênio e Beto (vai ver que é por isso que eu gosto tanto de biscoooooitos). Eu assisti o primeiro Fantástico! E não perdia por nada "Os 4 bonecos músicos de Bremen". E eu gostava das entrevistas do Hélio Costa. Eu vi Uri Geller entortar garfos na TV! Assistia Flávio Cavalcânti quando ele não "mandava retirar as crianças da sala"! Adorava também ver a Pantera Cor-de-rosa. Nem prestei muita atenção nas Olimpíadas de 72 e no assassinato dos atletas em Israel; mas gostava de deitar na rede e ouvir os programas de rádio AM à tarde. Toda semana ou quinzena (não me lembro) meu pai trazia uma revista Recreio nova! Sempre tinha coisas para cortar e montar — eu achava o máximo... e passava horas brincando.

Eu tinha enciclopédias em casa, e curso de inglês em disquinhos compactos. Meus vizinhos vinham pedir ajuda quando tinham pesquisas escolares para fazer. Regularmente, eu lia alguma coisa nas revistas Manchete e O Cruzeiro, geralmente, no barbeiro — por hábito do meu pai, meu cabelo era cortado a cada 2 semanas, junto com o dele! Tênis? Jeans? Cueca Zorba? Que nada! Era sapato social, calça de tergal (feita em alfaiate) e cuequinha samba-canção... tudo nos mesmos moldes do meu velho pai! E eu achava normal... mas, todo mundo na minha rua me achava "diferente", esquisito.

Enquanto meus vizinhos tinham carrinhos de rolemã, eu tinha uma patinete azul, toda de metal, com pneus e freio! Eles jogavam bola no "Bananal" mas meu pai não costumava deixar eu ir com eles — e eu acabei virando um "perna-de pau"! Eu vi o Brasil deixar de ganhar a Copa de 74. Mas as minhas atenções eram para os times locais desde antes do Brasil ganhar o tri. em 1970. E adotei o Cruzeiro como meu time — com Raul, Tostão, Piazza e outros mais — e tinha até um pôster do campeão na parede do meu quarto. Os filhos dos vizinhos soltavam papagaio; eu ficava em casa lendo e me distraindo com experiências químico-físicas de uma coleção chamada "Os cientistas" — quando as substâncias ou os procedimentos eram mais perigosos, meu pai fazia junto comigo. Eu me sentia uma criança feliz!

PASSEI DOS 40... (5/12)

Parte 4/12
Início - 1/12

O primário acabou e entrei para a 5ª série, no Colégio Militar de Belo Horizonte. Idéia fabulosa do meu pai — muito depois soube que ele não teria dinheiro para pagar uma escola particular se eu não passasse no exame de admissão... Como minha mãe se matou para que eu pudesse estudar para estas provas! Ela acordava ente 3 e 4 da manhã e passava os últimos pontos comigo no dia de cada teste. Minha retribuição veio em 7 longos anos da melhor formação educacional e preparo para a vida! Cultura, respeito, moral, ufanismo, organização, e muitas outras virtudes foram presença constante naquele tempo — e ficaram registrados na minha personalidade para sempre. Ah, é claro! Não dava pra passar vexame nos vestiários: comecei a usar cuecas Zorba, e minha mãe comprou tênis e calça jeans pra mim... que alegria... eu me sentia fazendo parte do mundo!

Eu assisti as Olimpíadas de 76, em Montreal; e tive minha primeira paixão platônica pela ginasta romena Nadia Comaneci. Ganhei minha primeira bicicleta — comprada na Mesbla! Eu curti a era da discoteca desde o princípio! Só não podia usar os mesmos cortes e topetes — no CMBH era cabelo curto, máquina 1! Eu tive uma calculadora programável HP-33E... aposentei a Dismac que eu tinha ganho anos antes e que fazia pouco mais do que as 4 operações básicas — mas era uma sensação! A HP, de bateria recarregável, era um show para a época. Mas um colega apareceu com uma Texas TI-59, do irmão mais velho... e a danada, além de ter muito mais passos de programa, lia cartões magnéticos!

Vivi anos de surpresa (75), de sofrimento (76), de insegurança (77), e de auto-afirmação (78 em diante). Minha cultura aumentou muito. Meus conhecimentos sobressaíam aos de conhecidos de outros colégios! Mesmo no final do regime militar, eu cheguei a ter aulas de combate ao comunismo, disfarçadas de EMC (Educação Moral e Cívica) e OSPB (Organização Social e Política Brasileira). Na música eu conheci Queen, Pink Floyd, Kraftwerk, Rick Wakeman, etc. e todos os hits da época: Bee Gees, Commodores, Santa Esmeralda, Genesis e muita "disco music" na cabeça! Cantei até doer aquelas músicas dos Bee Gees, usando corretamente os "falsetes" — vantagens da mudança de voz!

Ah, como a adolescência passa rápido!

PASSEI DOS 40... (6/12)

Parte 5/12
Início - 1/12

Em 76 eu conheci o Rio — e vi o mar em Copacabana, o Cristo, o bondinho do Pão de Açúcar, que cidade linda! Assisti capítulos de novelas que passariam depois em BH. Antes da transmissão simultânea via satélite, os capítulos de novelas tinham um pequeno atraso de uma cidade para outra; até chegar lá no norte e nordeste então...

As primeiras paixões verdadeiras apareceram... mas eu era feio e desengonçado! No auge da adolescência, espichando com educação física (militar) dia sim, dia não... não dava pra competir com os carinhas mais "ajeitados". Assim foi até quase eu sair do colégio — sem namorada e com um baita "paixão recolhida"! Supri essas necessidades com muitas amizades, brincadeiras, encontros sociais (festas), passeios, etc.

A minha formação religiosa contribuiu bastante neste período: era com a turma da igreja que eu me divertia mais! E como nos divertíamos... A presença constante de Deus na minha vida me deu chance de desfrutar de muita coisa da adolescência, de forma consciente, aprendendo a distinguir o certo do errado, sem nunca apelar para fanatismos ou extremismos. Os pais deveriam se preocupar mais com a formação religiosa dos filhos... o "lucro" é certo!

Acompanhei o enfraquecimento do militarismo! E entrei nos anos 80 com o pé direito. Personalidade formada, conceitos firmes, planejamento de futuro, e eu só tinha 15 anos! Conheci as praias do Espírito Santo — passeio "default" para quem reside em Minas! Apesar de todos os conflitos habituais da idade, eu me sentia satisfeito...

PASSEI DOS 40... (7/12)

Parte 6/12
Início - 1/12

Felizmente, meus namoros começaram a ser mais sérios. Duas, quase três ao mesmo tempo! Será que era pra "compensar o atraso"? Não... logo eu "organizei" tudo, sem magoar ninguém (eu acho). Romance, paixão, carinho, descobertas, tudo era novidade. Também vieram alguns leves desentendimentos, rápidas separações "para sempre" que caíam no esquecimento... amadurecimento natural. Por mais de uma vez, eu me senti amado.

O vestibular chegou... quem diria? Como era costume, fiz na UFMG e na PUC, para Engenharia Elétrica — passei nos dois. E na PUC eu fiquei em 3º lugar! Mas não havia a divulgação maciça de nomes de "vitoriosos" que existe hoje. Optei pela Federal — com que dinheiro eu ia pagar a Católica? Foi um mundo novo e diferente para mim, e eu mal tinha completado 17 anos... desorganização, greve, má vontade, brincadeiras inesquecíveis (ah, o tempo de faculdade), mas algumas pessoas levavam a sério o estudo — eu estava entre elas.

Eu, que já tinha feito 1 ano de lógica de programação e 1 ano de linguagem Fortran, comecei a me desenvolver na informática — particularmente, na microinformática. Logo aprendi a programar em Cobol, Algol, Basic, Assembler... Aprendi Basic em 1 semana e redigi uma apostila, na antiga máquina de escrever; esta apostila rodou, com sucesso, na mão de colegas e de desconhecidos! Eu vi que tinha talento para ensinar... e para preparar materiais didáticos.

Eu vi, pela TV, a queda do muro de Berlim. Aqui, a rotulada "ditadura" se prostrou moribunda... e lá fora o comunismo desmaiou! Eu vi a guerra das Malvinas, talvez a mais perto daqui do Brasil. Comecei a prestar mais atenção ao litígio Israel x Palestina. Por que tanta gente besta briga por pedaços de terra? E no Japão falta espaço pra caber todo mundo! Enquanto aqui no Brasil nós temos chão de sobra... e nem sempre ele é bem cuidado!

PASSEI DOS 40... (8/12)

Parte 7/12
Início - 1/12

É... um dia a gente tem que trabalhar! Universidade, namoro, planos da vida futura — o trabalho é inevitável. Carteira assinada, ponto, intervalo pra descanso, um PF de almoço, acúmulo de serviço, ônibus lotado na volta pra casa. A vida mudou radicalmente! E eu me senti cidadão do mundo.

Aos poucos, me embrenhei mais o mundo da informática. Não precisava mais programar em Algol, com cartões perfurados. Sim, eu vivi essa época... minha turma deve ter sido uma das últimas a usar perfuradoras de cartões na Federal. Virei "piolho" do DCC (Depto de Ciência da Computação) da Federal e comprei meus 2 únicos disquetes de 8" na loja da Control Data, em 3 parcelas — com bons recursos de formatação, consegui colocar CP/M, Wordstar, mBasic e dBase II num espaço de pouco mais de 360 Kb. Não, não faltou espaço para o StarTrek e para meus programas e documentos. Logo o CP/M deu lugar ao DOS. O Quartzil e o Polymax foram trocados por um Apple IIe e um DGT-100. Os disquetes agora podiam a armazenar 720 Kb em apenas 5"1/4.

Trabalho, rotina, aulas — eu passei a assistir aulas na UFMG e a dar aulas de linguagens de programação. Com dinheiro no bolso, não demorou muito para eu comprar meu primeiro computador. Caramba! O CP-300 funcionava com uma TV Philips 10" P&B e um gravador National. Me lembro de ter ligado para um amigo para comentar: "Cara, o micro tem um relógio de tempo real!". E onde ficou a Engenharia? Perdida no meio das greves e da desorganização do ensino público federal... Desse jeito não deu mais para continuar estudando. A responsabilidade aumentou, o nome começou a se firmar no mercado de trabalho, um futuro diferente e promissor se desenhou à minha frente.

Eu vi o rock brasileiro sair do Circo Voador e invadir o país! Novas bandas, novos sons, novos talentos... mas parecia ser só mais uma fase da MPB. Blitz, Titãs, Paralamas, RPM, Barão Vermelho, Kid Abelha, Legião Urbana, 14-Bis, Ira!, Ultraje a Rigor, Capital Inicial, Richie, Lobão, Metrô, Camisa de Vênus, Biquini Cavadão, Roupa Nova... fosse brega ou chique, todos faziam muito sucesso.

Eu vi o Colégio Eleitoral derrubar o Maluf em favor do Tancredo Neves! O poderio das Forças Armadas tinha acabado de vez. Ao mesmo tempo, a minha responsabilidade aumentou com o casamento; logo depois, o primeiro filho. O arrocho salarial, a inflação descontrolada, as enormes dívidas dos governos militares... nem tudo foi bom durante o regime militar — e os "frutos" só apareceram depois.

E como fruto "maldito" daquele regime recém-finado, Tancredo morreu! Ou foi morto! Será que um dia saberemos a verdade? Estória mal contada, fotos fantasiadas, boletins diários, até um domingo à noite fechado com o hino nacional na voz de uma conterrânea minha! Que privilégio inglório! Mas eu também não agüentei a emoção e deixei os olhos encherem d'água... pra extravasar, pra esvaziar meu pacote de esperanças num Brasil melhor. Naquela noite, todo brasileiro legítimo foi pra cama com um nó na garganta.

PASSEI DOS 40... (9/12)

Parte 8/12
Início - 1/12

Eu vi o Sarney (não, eu não cheguei a ser um "fiscal" dele) comandar a Nação, vi meu filho nascer, vi Dilson Funaro e seu Cruzado, vi a inflação subir como foguete, vi o salário mínimo cair como uma pedra, vi meus afazeres aumentarem (em 3 locais de trabalho simultâneos), vi meus alunos aplicarem o que aprenderam comigo, vi meus programas serem expostos em feiras, vi meu filho crescer, voltei ao Rio para ver o sucesso do meu trabalho (embora meu nome nem aparecesse... mas eu sabia). E eu vi o casamento de um ex-aluno e fui seu padrinho, eu vi uma grande festa, eu vi as belezas daquela cidade do interior... e, na volta para casa, eu dormi no banco de trás; na estrada, eu não vi os caminhões, eu não vi o velocímetro marcar 160 km/h na ultrapassagem proibida, eu não vi o acidente... e eu não vi o meu filho morrer!

Acordei dias depois num mundo diferente, triste e sombrio. E eu me senti fraco. Foram dias, semanas sem andar. Durante alguns meses apenas uma pergunta pairava na mente: "Por que eu não fui no lugar dele?". Mas eu pedi a Deus força, e Ele me deu. Com ajuda das pessoas mais próximas, eu me reergui e comecei tudo de novo. Eu vi meu outro filho nascer, eu vi a minha carreira decolar novamente, eu retomei o rumo do crescimento e segui em outras direções.

Eu tive a minha primeira empresa... e os meus primeiros sócios. Junto, vieram os primeiros grandes problemas. A reserva de informática tinha acabado há tempos; e a tecnologia "nacional" despontou de forma anômala, mas os micros "brasileiros" — clones dos britânicos Sinclair e dos americanos TRS-80 e Apple — invadiram o mercado. Logo, a minha empresa acabou... mas eu continuei seguindo em frente.

Eu vi o que fizeram nos planos Bresser e Verão. Eu percebi que o meu dinheiro também era "surrupiado", mas eu mantive o meu equilíbrio até onde foi possível. Um dia, descobri um problema grave! Eu vi alguns sonhos se desfazerem, eu previ dificuldades sérias, eu vi o meu casamento morrer... foram pouco mais de 8 meses de separação. Eu passei maus momentos; e eu pensei em... fugir de tudo e de todos! Mas eu pedi, e novamente Ele me ajudou a resistir. E até o meu casamento ressurgiu das cinzas.

Busquei novo impulso. Fiz vestibular e passei, de novo. E eu me senti forte mais uma vez. Agora meu interesse era a Administração de Empresas. Os anos 80 acabaram e logo foram chamados de "década perdida". O curioso é que, hoje em dia, os mesmos anos 80 são largamente relembrados com extrema admiração e saudade! Para mim, sob muitos aspectos, foram mesmo anos perdidos... e que eu procuro lembrar só dos bons momentos.

PASSEI DOS 40... (10/12)

Parte 9/12
Início - 1/12

Eu vi uma nova vida quando voltei a estudar! Eu driblei o início da era Collor com maestria, e fiquei com muito mais do que NCr$ 50,00 na conta bancária (esse segredo eu não conto!). Eu tive a consciência de restabelecer meu casamento. Eu vi minha filha nascer. Eu tive outra rápida ascenção na carreira. Eu pude aplicar na prática aquilo que eu aprendi na faculdade. Eu conquistei espaços que não imaginava, e eu vi um antigo sonho meu se realizar!

Aos 26 anos, eu assumi o controle de todos os computadores que o Brasil possuía no exterior, em embaixadas, consulados, postos e missões diplomáticas. Fui indicado para ser Chefe do setor de informática do Departamento de Comércio Exterior, no Itamaraty, em Brasília. E ali eu realizei um sonho de infância (da época em que eu ouvia os disquinhos do curso de inglês, aos 6 anos de idade): entrar nos Estados Unidos, por Nova Iorque, e em posição de destaque — já que eu estava representando o governo brasileiro como co-palestrante em um seminário. Foi um período ótimo na minha vida!

Mas eu tive consciência de que cheguei ao topo muito rápido. Talvez, por conta disso, minhas ambições hoje sejam bem menores... fama, dinheiro e sucesso nem sempre satisfazem. Fazer bem o que você gosta, perto de quem lhe quer bem, dá bem menos dinheiro... mas faz você atingir a felicidade bem mais facilmente!

Eu reestruturei meu curso, aprendi muito, fiz grandes amizades, e completei os estudos no tempo regulamentar. Sim, eu me formei! E me tornei mais um Administrador de Empresas no mercado de trabalho. E eu me diverti, pulei, brinquei e dancei até o dia nascer no baile da minha formatura... como nunca tinha tido chance de fazer na minha vida! Eu me afiliei ao Conselho Regional — eu senti orgulho em ser um bacharel. Eu constituí nova empresa, eu construí uma carteira de clientes, eu cresci como profissional.

Eu vi a tão falada "democracia" se firmar. Ou não? Eu abri mão de certas coisas e de sonhos pessoais... só para ficar mais tempo perto da família e ver meus filhos crescerem — só quem perde um, sabe o quanto isso é importante. Eu acompanhei a evolução da Internet e a expansão dos gigantes da informática no mundo. Eu tive acesso a muitas novidades... e isso me fez sobressair como profissional por mais um tempo. Eu me senti globalizado!

PASSEI DOS 40... (11/12)

Parte 10/12
Início - 1/12

Eu viajei bastante, eu conheci muita gente bacana, eu transformei alunos e colegas de trabalho em grandes amigos. Eu continuei crescendo... como profissional, como pessoa, como um ser humano digno.

Um dia, depois de ter trabalhado o dia anterior e a noite toda em um cliente, eu vi um herói morrer... no dia do trabalhador, numa curva em Ímola, a mais de 300 km/h. Não pude deixar de lembrar do meu acidente e, por mais tragicômico que possa parecer, decidi não mais me matar de trabalhar. Reduzi as viagens, neguei serviços, recusei promoções que me mandariam para longe, e perdi muitas oportunidades, é certo... mas pude ficar perto dos meus filhos e vê-los crescer ao meu lado. Entendi que o que aprendi na escola da administração de recursos humanos é verdade: qualidade de vida é essencial!

Eu vi a moeda (CR$) ceder o lugar para a URV, e esta, para o Real. Eu vi a inflação se estabilizar. Eu pude comprar coisas importadas com uma moeda mais forte que o dólar! Eu vi meus filhos crescendo, num mundo protegido e bem cuidado. Eu vi meus filhos aprendendo coisas que eu não consegui aprender... logo, eu os vi realizando alguns dos meus antigos sonhos! E descobri mais um sentido para a vida.

Eu descobri um problema congênito no coração e, na decisão de corrigi-lo, acabei assustando a mim e a muitos — mais uma vez, Deus me mostrou que ainda não era a minha hora. Mas eu também percebi que nem toda solução é definitiva, e aquela não vingou tempo suficiente para me trazer tranqüilidade plena.

Não demorou muito para eu entender, de novo, o que é perder uma pessoa da família. Vi uma doença maldita corroer o corpo do meu pai em poucos meses, e pude tê-lo perto de mim até o seu último dia. Eu mudei alguns de meus conceitos, eu perdi alguns valores e ganhei outros. Mas eu continuei meu crescimento.

Eu vi um novo século e um novo milênio nascendo! Eu senti dificuldades de toda sorte me cercando. Eu vi o mesmo mal que matou meu pai destruir minha mãe ao longo de 13 ou 14 anos. E eu chorei escondido muitas vezes... porque não havia como reverter o processo. Até que eu também a perdi para sempre. E eu, por vezes, me senti sozinho... absolutamente sozinho num mundo onde todas as responsabilidades pareciam ser minhas!

PASSEI DOS 40... (12/12)

Eu vi o terror do 11 de setembro... e liguei pra casa achando que a 3ª guerra mundial ia começar. Eu vi outras guerras acontecendo, e vi ditadores morrerem. Eu vi a cultura do meu país entrar numa fase longa e ruim... eu vi celebridades instantâneas sem conteúdo, vi a banalização de problemas graves, vi as redes de TV jogarem sujo para conquistar mais audiência, vi o aumento da violência, vi a desmoralização das instituições, vi a corrupção desenfreada, vi a falta de caráter, vi o descaramento de um governo estúpido e improbo, e vi que sozinho eu não consigo fazer nada para melhorar... Mas se eu começar a fazer e você se espelhar em mim, poderemos influenciar outro, e mais outros... e aí, sim, poderemos ver alguma coisa funcionando melhor!

Eu descobri que é importante saber caminhar sozinho mas, acima de tudo, é preciso ter estrutura! E esta estrutura vem do berço... e meus pais investiram tempo em construí-la em mim. Hoje eu agradeço a Deus por ter me dado condição de fazer o mesmo com meus filhos.

Aliás, eu me tornei mais amigo dos meus filhos, dos amigos deles, e dos meus sobrinhos também. Eu tive novos abalos na minha vida pessoal... mas eu resisti e venci uma parte significativa das batalhas; outras, eu perdi. Eu confiei demais em pessoas... quando devia ter confiado mais em Deus! E paguei caro por isso, e perdi muito. Mas creio que aprendi mais essa lição. E, hoje, eu me sinto realizado.

Eu passei dos 40 anos de idade! Eu vivi tudo isso e muito, muito mais...
E eu ainda não sinto a ação do tempo como eu achava que iria sentir.
Quero manter minha mente jovem, sem cair no ridículo de querer parecer "jovem".
Porque eu entendi que a juventude é um problema que se resolve com o tempo.

Mariel Lobo de Souza, dez/2004
Como tudo começou

Como tudo começou

Quando conheci a Internet, eu pensei em usá-la para expor minhas idéias — mas, em 1992, eu não tinha ainda a menor idéia de como faria isso. Menos de um ano antes, em 1991, eu tinha tido uma boa experiência com a Infonet, que permitia a divulgação diária de uma coletânea de notícias a consulados, embaixadas, missões e postos do Brasil em outros países.

Entre 1995 e 1999 eu me divertia muito nas salas de bate-papo; cheguei a ter uns 30 personagens diferentes — um deles até rendeu um pequeno "site"... e me aproximou do desenvolvimento para Web, HTML, scripts, etc. — mas isso é história para outra oportunidade. O interessante é que, através daquelas 'facetas', eu conseguia mostrar um pouco de mim.

De uns tempos para cá, com a popularização dos blog's, passei a crer que é possível fazer com que as pessoas possam conhecer mais diretamente alguns dos meus pensamentos, ler minhas crônicas, e discutir minhas idéias. Dessa forma, me sinto enriquecendo meus conhecimentos, porque sei que preciso tomar cuidado para que as idéias sejam apresentadas de forma simples e fácil de ler. Assim nasceu "o blog do Mariel", um simples "Manifesto Casual".

A minha riqueza aumenta também à medida que aprendo com o que recebo — sob a forma de comentários e críticas — de outras pessoas, conhecidas ou não. E tudo isso fica exposto... 24 horas por dia, para o mundo inteiro.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Cientistas desenvolvem bateria com carga para 30 anos

O laboratório de pesquisa da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) desenvolveu uma tecnologia de construção de baterias que dispensam a recarga por até 30 anos, mesmo em funcionamento constante. Ao que tudo indica, elas estarão disponiveis no mercado em 2 ou 3 anos.

Os cientistas da USAF revelaram ao mundo os princípios que permitem o funcionamento prolongado das baterias denominadas "beta-voltaicas", sem necessidade de recarga. Elas podem ser usadas em celulares, notebooks, hand-helds, e mais alguns aparelhos portáteis.

A base tecnológica é a desintegração de radioisótopos para capturar emissões de elétrons beta, utilizando a eletricidade deles para energizar chips e gerar uma corrente regular de energia. Em outras palavras, é uma substância radioativa — não tóxica — que gera energia constante por um período muito longo. Daí a possibilidade de usar estas baterias em notebooks, por exemplo, por cerca de 30 anos.

E estas baterias ainda possuem outros benefícios. Como as reações não são térmicas, não há geração de calor, ou seja, elas não esquentam — o que evita incêndios, como em casos já divulgados. As camadas de radioisótopos e semicondutores são muito finas e permitem o seu uso em aparelhos de tamanho físico bem reduzido. E, para completar, como não são prejudiciais ao ser humano, podem ser jogadas no lixo sem problema algum para o meio ambiente.

Obviamente, elas serão usadas primeiro em aparelhos de órgãos do governo americano e nas Forças Armadas. Entretanto, elas devem virar uma realidade comercial, ao alcance de todos, nos próximos 2 ou 3 anos.

Fonte: Electronista - Next Energy News
Publicado no jornal O Debate em 03/out/2007