
O filme do diretor José Padilha, sobre a "rotina" do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) do Rio de Janeiro já levantou muita poeira e causou um bocado de polêmica. O que era para seguir um estilo de documentário, baseado (segundo Padilha, não é uma adaptação!) no livro "Elite da Tropa", de Luiz Eduardo Soares, acabou virando um sucesso e uma mania nacional! Mesmo com milhares de cópias "pirata" espalhadas antes da estréia, bateu recorde de bilheteria já no primeiro fim de semana de exibição! O que mostra que a "pirataria" ajuda na divulgação e não deve ser tratada de forma tão nociva — mas isso é assunto para outra oportunidade.
O enredo trata da guerra urbana carioca sob a ótica de um dos lados: o de um policial. E não reflete diretamente a realidade — esta é bem mais cruel — dos problemas de desaparelhamento e má remuneração da força policial, violência, abuso de poder, corrupção escancarada, tráfico de drogas, desigualdades sociais, métodos de tortura, etc.
Alguns críticos e antropólogos apontam uma visão "maniqueísta" da abordagem e, em alguns pontos, preconceituosa também. O filme incomoda porque mostra um pedaço das vísceras da nossa sociedade frente aos temores de profissionais que querem vencer de forma honesta, e os obstáculos que isso traz. A análise deve ser muito mais profunda, e esbarra no câncer da criminalidade impune alimentada pela inércia e/ou incapacidade de governantes e "homens da lei".
Não sou adepto da tortura, tampouco de métodos ortodoxos de cerceamento da bandidagem; por outro lado, quando o "outro lado" não respeita, renitentemente, nenhum direito do cidadão comum (entenda-se aí eu, você e os demais), certamente merece uma correção mais severa. E, se você pensar bem, "osso duro de roer" não é o BOPE, com suas atitudes radicais e sua violência quase sem limites; é ver a insegurança instalada no cotidiano, é saber que pessoas inocentes morrem por causa de vinganças injustificáveis ou de balas perdidas, é ver o filho do seu amigo ou vizinho morrendo "a prestação" por conta das drogas, é o esforço desmedido que pessoas simples fazem para serem "do bem"... pressionadas pelo "lixo da sociedade" que insiste em ser "do mal". Isso, sim, é duro de roer.
De qualquer forma, é bom deixar clara a minha visão: o cap. Nascimento não é herói, nem todo favelado é bandido, nem todo policial é corrupto, nem todo universitário é viciado, nem todas as ações do BOPE dão certo, nem toda tortura é solução! As personificações do filme são caricatas, estigmatizadas em demasia para chamar a atenção sobre os problemas... Se ninguém fizer assim, como vamos tomar conhecimento? Portanto, se você não viu, vá ver. É um ótimo filme! E responda a enquete aí ao lado...
(*) maniqueísmo - corrente de pensamento sincretista, instituída por Maniou Maniqueu (séc III), que defende a idéia de que o Universo é dividido em dois lados que combatem constantemente: o "bem", ou Deus, e o "mal", ou diabo.